Tuesday, December 20, 2005

AQUIDABÃ


O Aquidaba


Olhei o Corcovado e o Pão de Açúcar
domingo a noite
de uma cantareira vindo de Niterói.
(Lia uma carta de Glauber Rocha na Folha de Sao Paulo
e dei-me risadinhas "sinistras"...

Enquanto cruzo os Arcos da Lapa
indo para Santa Tereza
continuei a ler o "Triste Fim de Policarpo Quaresma",
do Lima Barreto:

Rio de Janeiro, ano 1893 - Revolta da Armada.
Caudilho do hora: Marechal Floriano Peixoto
- o "Marechal de Ferro".

(Amanhã quero ver a Baia de Guanabara de outro ângulo
- com os olhos voltados para aqueles tempos das batalhas):

O navio AQUIDABÃ, tomado pela marujada rebotalha e revoltada,
bombardeou por vários dias seguidos
a Bela e Muy Leal Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro,
capital da República.

A maestrina e maxixeira Chiquinha Gonzaga
teve suas músicas censuradas como provocativas e libidinosas para a República
e só não foi presa por ser afilhada de Duque de Caxias
e foi trancafiada dentro de casa
suspeita de colaborar com os rebotalhos revoltados.

No teatro de variedades só resistiu à Guerra Civil
a peça-comédia "O Abacaxi"
descascada por um ator que imitava o Marechal de Ferro
com sua longa capa preta e sua espada sanguinária na mão
- seu contra-ordem era um temível capoeira.

Floriano Peixoto transformou as muralhas
do Mosteiro de São Bento
numa fortaleza de canhões e torpedos
que atiravam no Aquidabã fundeado
na Baia de Guanabara, que era dos Tamoyos...

No início da Revolta estavam ancorados na Bahia do Guanabara
vários navios de guerra estrangeiros como "observadores internacionais":
o cruzador francês o Arethuse,; três navios britânicos: o cruzador Sirius e as canhoneiras Beagle e Racer;
os cruzadores italianos Giovanni Bauzan e Dogali; e a corveta portuguesa Mindelo.
Juntaram-se a essa força internacional os cruzadores alemães Arkona e Alexandrina;
os cruzadores americanos Charleston, New York, San Francisco, Detroit e Newark,;o cruzador holandês De Huyter:
o cruzador italiano o Etna, as canhoneiras Andrea Provana e Sebastiano Veniaro,; cruzador francês o Magon ,
o cruzador britânico Barracouta, a fragata austríaca Zrimgyi e a corveta portuguesa a Afonso Albuquerque...

Aquidabã seria vitima de várias tentativas de bombardeios
e ataques das forcas legalistas do Marechal de Ferro.
Numa delas o cruzador inglês Sirius apreendeu uma lancha suspeita, chamada Joana,
ostentando a bandeira britânica tripulada por um americano, um canadense, um norueguês,
um belga, um irlandês e dois brasileiros, todos mercenários contratados pelo governo do Marechal Floriano Peixoto,
que levavam uma mina para ser presa ao casco do Aquidabã.

Nos fins de semanas
as famílias vinham assistir aos combates
das muradas do Cais do Passeio.
Traziam binóculos, sorvetes, rapé e faziam alegres pic-nics.

As buchas-de-canhões eram os "pés-rapados",
ex-escravos, mulatos desempregados,
brancos fuleiros, gentes dos subúrbios
e das cabeças de porco e das favelas ao redor
- a ralé da Capital
encravada no coração da República Nova...

Muitos foram fuzilados na Ilha do Boqueirão
e seus cadáveres lançados na Baia de Guanabara
dos porões dos navios rendidos pelo Marechal de Ferro.

Os comandantes da Revolta, todos graduados e brancos, foram aliviados.

Aquidabã foi bombardeado e destruido em Angla dos Reis.

O Major Policarpo Quaresma
patriota nacionalista de tempera tupy
- fervoroso admirador do Marechal de Ferro
é setenciado com traidor da pátria horrorosa
por discordar do banho de sangue e da chacina
no presídio da Ilha das Cobras pelas ordens supremas de Floriano Peixoto.

O Major Policarpo Quaresma foi passado a fogo e ferro
numa noite de calabouços e agonias
e seu corpo jogado aos peixes da Baia de Guabanara
que assistia a todo aquele horror tingindo suas águas.

No meu primário, nas aulas de História do Brasil,
o Marechal Floriano Peixoto
era conhecido como "Floriano Pescoço"...

Aquidabã quer dizer "terras entre rios, ilhas, terras férteis e aguadas"...

(Referencias mínimas:
- "Triste Fim de Policarpo Quaresma", Lima Barreto, Edicao Online
- O Encouracado Aquidaba, Paulo de Oliveira Ribeiro, Revista Naval)

No comments: