Sunday, November 27, 2005

O Gelo e os Javalis




Leon na beira do Wannsee - Fotos: Ras Adauto


Hoje, fazendo 0 (zero) grau de temperatura, fomos passear na
GrüneWald (a Floresta Verde) que contorna o Wannsee,
o grande lago de Berlin.

A Floresta com as árvores quase depenadas
estava coberta de neve e o lago já virado em gelo.
Fomos subindo o monte para contornar o lago
quando o meu faro de Oxossi presentiu algo
muito forte na área. Avisei para Katharina e Leon:

- Vem coisa!

Segundos depois, há cerca de 30 metros de nós,
em uma carreira desabalada, cerca de 30 javalis
de vários tamanhos foram subindo o monte. Eles
iam em fila indiana com os menores na frente e
o ultimo, um Grande Javali, que parecia o chefe
da manada, fechava a tropa. Esse imenso javali parou
por uns instante e ficou nos observando. Depois
seguiu em frente e sumiu no lado mais escuro
da mata.

Foi uma visao inesquecível para nós 3 ali. Nao deu
para fotografa-los pois a cena foi muito rápida, como
uma raio repentino que estoura no céu. Por vários
instantes ficou no ar o cheiro deles, como se fosse
o cheiro de um chiqueiro de porcos.

Foi uma das cenas mais incríveis que já vi na minha vida.
Um poema inteiro da natureza se manifestando ali
na nossa frente

Berlin, 27.11.2005

Saturday, November 26, 2005

Tambor de Crioula


ModevonOumouSy11, OumouSy


Fui ao Agbara-Dudu
ve-la dancar

Nessa noite
ela estava ainda mais linda
seus búzios
suas trancas
seu abébé
suas palhas-mariwo
negra negra negra

Pensei com os meus botoes:
será a Rainha Nzinga?
será a Rainha Sheba de Adis-Abeba?
será a Matamba de Cacurucaia?
será a Rianha Elefanta do Congoß
ou a Princesa Guerreira de Axum?

Num momento qualquer
i m p e r c e p i t í v e l
que só o olhar contaminado
pode perceber
ela
flutuou
no terreiro
respondendo aos tambores
que se anunciavam.

Madureira flutuou
dentro de mim, ai!

Ela era como
um bronze de Benin!

Rio de Janeiro, 1989


OusmouSyportrait1, OusmouSy

Entrevista para o K36 Kreuzberg News - Continuando...

continuando...

- Voce acredita em Deus ?

- Deus para mim é uma icógnita. Eu acredito em muitos deuses e deusas. Sou um panteista e um ecumenico. Meu orixá
é Logun-Édé, por sinal o orixá artista, assim como Oxumaré, a Boa. Eu fui criado dentro do catolicismo até determinada idade, beijava mao de padre, ia à igreja me confessar e comungar, assistia aqueles filmes da "Vida de Cristo" todas as sextas-feiras da Paixao. Aí um dia todas as mulheres da minha casa, minha mae e minhas irmas, bolaram no Santo. Comecou a aparecer Ogun. Yemanjá, Oxossi, Seu Cobra Coral, Exú Tiriri, etc. Essas entidades tomaram a minha casa
e entre imagens de Nossas Senhoras e Coracoes de Jesus, Sao Jorge matando o Dragao, Santas Claras, essas energias, o nosso lado africano, pediram passagem debaixo daquele esconderijo de cruzes e ladainhas e ficaram.

Li muito também sobre religioes orientais: budismo, hinduismo, lamaismo, etc. Eu gosto, só nao suporto mais essa visao catequética da humanidade, seja do catolicismo, judaismo, islamismo, evangélica... Todo muito deve professar a religiao que mais lhe couber no coracao e na alma, mas só nao pode achar que a sua religiao é a única e vrdadeira, que está acima das outras. Por isso nao gosto de Papas e pastores. Como poderia citar o Buda: o buda é voce mesmo, cada um é seu próprio buda... Como cada um de nós, como ensina a cosmologia do ser dos yorubas, cada um de nós carrega seu próprio Exú dentro de si e seu Ori...

Entao Deus pra mim é um coquetel disso tudo e ele pode estar agora, misturado à minha saliva, embaixo de minha língua. Gosto muito daquela tirada do genio do cinema espanhol, Luis Bunuel, quando lhe perguntaram que religiao ele era: "Sou ateu, gracas a Deus", respondeu com ironia à reporter.

- Recita alguma coisa aí pra nós para terminarmos a entrevista:

- Cada palavra carrega um segredo
mas é entre o silencio entre uma palavra e outra
é que se pronuncia a música
ou uma terrível revelacao
ou se quiserem é onde habita o nada
na verdade nao existe esse silencio
como sempre relatou o músico John Cage
pois é justamente ali no meio daquele silencio
que nasceu a primeira palavra da humanidade
que para os Egípicios antigos era o grito de Osiris
"RA!!!"
ou o "OM" de Shiva
a palavra-flauta de Tupa
o estrondo de Thor dos Vinking
ou o grito do Orixá quando dá o seu nome
num ritual de iniciacao de uma yao

Por isso que uma palavra nao deve
ser dita a toa...

Entrevista: Andreas Dick
Entrevistado: Ras Adauto

Berlin, 26.11.2005

Entrevista para o K36 Kreuzberg News


Dando uma de índio "Tupitáputo", no filme "O RIO",
de Marcelo Serra...


Ras Adauto e Leon Oranian, no Karneval der Kulturen,
Berlin junho de 2005 - Foto: Katharina La Henges


- Ras Adauto é seu nome?

- Nao, isso é um nome artístico, um nickname... O meu nome mesmo é Adauto de Souza Santos. Ras Adauto adquiri dentro do movimento rastafari no Rio de Janeiro...do qual sou um dos agitadores.

- Voce nasceu aonde?

- Nasci no Rio de Janeiro, na comunidade favelada do Andaraí. Sou de origem baiana, carioca, indígena, portuguesa; aquele caldo grosso brasileiro, aquele tempero, entre a senzala e os terreiros, a casa grande e as florestas selvagens do Brasil...

- Voce trabalha com várias mídias, com várias artes (cinema, video, literatura, teatro, música, fotografia, etc). Como é isso pra voce? É uma inquietacao que voce tem... ou?

- Eu sempre gostei de artes. Essa coisa de ser artista, de inventar coisas mágicas, pensar que eu sou outra pessoa, um personagem de ficcao... Minha primeira grande paixao foi a literatura, desde pequeno a literatura fez parte da minha formacao. Meu pai, um operário da indústria textil, semi analfabeto, me ensinou a ler aos 3 anos de idade e foi ele quem me deu o primeiro livro. Apartir daí comecei a ler tudo que caia na minha mao. Nao foi atoa que entrei para a Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro para estudar Literaturas. Posso dizer que da Literatura Brasileira li praticamente tudo, dos clássicos aos modernos. A minha mae ficava preocupada comigo e dizia que ei ficar maluco de tanto ler. Mas na verdade eu já estava doido há muito tempo, pois a literatura, seus personagens, cenas e situacoes foram as chaves fundamentais para as outras artes e para meu processo de criacao e fantasia. Adoro fantasiar as coisas, imaginar situacoes absurdas, impasse ficcionais, poéticas, dramas... tudo isso. Por isso adoro o universo infantil, onde habitam os seres fantásticos, os sacis pereres, os gnomos, as fadas, o outro lado do espelho das alices de todas as culturas, dos irmaos grimm à monteiro lobato... Adoro criar coisas com o meu filho Leon, que tem uma imaginacao que nao está no gibi...

O teatro veio quando em 1979 fui para o Teatro Oficina de Sao Paulo, aí me desenvolvi como ator, um farsante, o mascarado, o dissimulador. Pois foi no Teatro Oficina, com os treinamentos radicais de José Celso Martinez Correia o maior diretor do teatro moderno brasileiro, que penetrei nesse patamar complexo da esquizofrenia humana e da dissimulacao artística, entre o ridículo e a caretice humana e a celebracao da tragédia e da comédia...

.A música, que acompanha todo mundo desde que nasce, veio no processso e apesar de nao ser um músico, já cometi uma série de composicoes e sempre tive ligacoes fortes com músicos, cantoras, no Brasil e agora aqui em Berlin. Acho a música a arte universal por excelencia, a mais anti-racista, a que mais penetra na consciencia humana. Agora, gosto de boa música, nao essa enxurrada de bobagens ridículas que está rolando por aí. Gosto de ouvir todo tipo de música: clássica, hip-hop, blues, jazz, reggae, música indú música árabe, indígena, batuques, etc É a comunicacao mais avancada da humanidade pra mim... E o meu país tem uma das músicas mais ricas do mundo e os brasileiros sao altamente musicais.

Aí depois na sequencia foram entrando o cinema, o video, a fotografia...Adoro a questao mágica da imagem em movimento. Da ciencia da película cinematográfica, extensao da fotografia; e agora a tecnologia digital. E também da projecao dessa imagem para criar uma atmosfera de uma outra dimensao, uma humanidade paralela que se movimenta num filme, num documentário...É fascinante!

- Voce acredita que o artista é um ser especial?

- Eu acho que nao... O artista é um ser humano como qualquer um... Mas o que ele traz de diferente é a possibilidade de criar coisas que nao existem para entreter e fazer sonhar as outras pessoas, como Chaplin, Picasso, Glauber Rocha e tantos e tantas outras fizeram e fazem. Hoje com essa ridícula sociedade de espetáculos voltamos àquela visao do artista inatingível em sua torre de marfin de segurancas, guarda-costas, etc., que o resto dos mortais tem que ficar adorando enquanto eles se apresentam em seus palcos ilumindados e caros. E quando esses tais artistas se apresentam é a merda que se ve, a mediocridade toda. Um verdadeiro artista é o ser humano que tem como funcao elevar a qualidade imaginativa do inconsciente da humanidade, por isso ele é um rebelde permanente contra a mediocridade das cenas desses falsos espetáculos...

- Voce gosta de política?

- Eu gosto de política social, no sentido mais amplo. Nao tenho muito paciencia para políticos, principalmente no meu país, com toda aquela mediocridade absurda ainda originária dos tempos da colonia, onde se exterminavam nacoes indigenas e escravizavam negros africanos para enriquecer as poucas famílias senhoriais. Isso ainda continua, mas tem muita gente lutando há anos contra isso, contra esse cancro no Brasil. E digo mais, o Brasil é um dos piores países racistas do mundo atualmente. E isso vem lá de cima e atinge toda uma sociedade crítica...que ainda nao resolveu o seu principal problema de identidade real e nao fictícia... Esse é um romance, a novela que eu nao gosto. Como diria um poeta famoso brasileiro, o modernista Oswald de Andrade: "O Brasil é o único país do mundo, que a elite é estrangeira e o povo brasileiro"... É mais ou menos por aí... Essa elite brasileira sonha em ser "europeu" ou "americana" e nao ve que a própria Europa e os Estados Unidos estao numa puta crise de sua identidade multicultural e multiracial... Acredito eu que esses lances sao os grandes temas para o próximo milenio, nao sao só as guerra religiosas ou os tais terrorismos que estamos assistindo e participando hoje em dia. O mundo todo está passando por uma longa crise de identidade e de identificacao, e o meu país ainda está pensando com a cabeca da Casa Grande e das Senzalas, no século XIX... O que que somos? Nós somos tudo isso e ainda temos que fazer parte da grande movimentacao global do mundo.

- A sua arte é política?

- No sentido amplo, sim. Qualquer acao artística pode ser considerada política, pois o ser humano é um ser da polis. Agora: eu nao gosto da arte dirigida, desse tipo de arte catequética, que voce tem que fazer a cabeca das pessoas. Ou que voce por ser negro, índio, turco, etc e tal, voce TEM que fazer arte sobre aquilo. Evidentemente se voce é um negro, voce diretamente, quase que inconscientemente, voce vai retratar o seu universo, contar seus dramas, conflitos, a partir de onde voce veio... Mas acredito que um artista verdadeiro ele deve ampliar as suas possibilidades e falar de qualquer coisa sem limitacoes ideológicas ou imposicoes catequéticas. Eu nao preciso mais, hoje em dia, ficar repetindo pra todo mundo que eu sou um negro. Eu sou um Negro e pronto. E as minhas artes partem disso... Essa é a minha base universal, ser Negro, para falar com todas as línguas e sentidos para a humanidade toda. Nao quero ficar reduzido a um gueto que me coloquem. Por isso o personagem que eu mais gosto e me guio é o Orixá Exú, figura central do Panteon da religiao afro-brasileira de origem Yorubá. Exú se movimenta em todas, está em todos os caminhos, fala todas as linguagens, é o grande artista dos mil instrumentos, toca flauta e chupa cana ao mesmo tempo... Exú nao cai nesse papo de guetos e artes reduzidas, e é sempre o Exú, o que tem mais de mil nomes... Exú é o rei das Artemanhas!

- E aqui em Berlin, voce faz o que?

- Em Berlin faco parte de uma comunidade de artistas de várias nacionalidades e áreas de atuacao. No Brasil eu também fazia parte de uma comunidade assim, mas só que aqui acontece uma extensao, pois nao temos só brasileiros ou brasileiras, entendeu? Berlin é muitiracial internacional. Faco parte de uma associacao chamada Nijinski Arts Internacional e.V.-Berlin. E desenvolvo o meu trabalho junto com minha grande parceira e amiga, Katharina la Henges. E nós estamos agora introduzindo o nosso filho Leon Oranian, de 6 anos, na nossa banda de teimosos sonhadores imaginativos. Na verdade na verdade, eu sou um macumbeiro, o que eu faco é macumba, minha arte é a minha macumba. O grande poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade escreveu que: "A poesia é a minha cachaca". Eu escrevo: "a poesia é a minha Macumba". Antes eu fazia macumba nas encruzilhadas do Rio de Janeiro, hoje faco macumba no meio do mundo aqui em Berlin... Quero ser cada vez mais um ser universal, debaixo de minha pele negra, a minha melhor arte!...

Entrevista: Andreas Dick
Entrevistado: Ras Adauto

Friday, November 25, 2005

ReToQuE






TOQUE ME TOQUE SE TOQUE RE TOQUE!

Os Orixás vivem num mundo virtual!

E se Deus existe mesmo
Que ele apareca aqui na
minha frente agora
e me toque um Blues
e me de um beijo de língua
Porque nao sou como Nijinski
o Palhaco de Deus

Outro dia me falaram
que Deus mora nas pregas

Mas como diz o Hino nacional do Iraque:
"Esta Terra é uma mistura
de Chama e Luz..."

Deus é uma das muitas possibilidades
que podem ser retocadas
Se Toque!

O Menino Fotográfico



O poeta viaja de metro
em Berlin
enquanto seu filho
lhe toma uma fotografia

O menino diz para o pai:

"Papi, bleib hier;
Sehe mal der vogel!"
(Papi, fica aí:
Olha o passarinho!)

Flaaaassshhhh!!!!
faz a pequena maquininha do menino.

O poeta entao se lembra
de Joao Gilberto
e canta bem desafinado
para o menino fotográfico:

"Fotografei voce
na minha Digital
revelou-se-me
a sua e n o r m e
gratidao!"

Mas o metro U7 de Berlin
indiferente à cena
segue decidido
em direcao
à Alexenderplatz...

Thursday, November 24, 2005

O Anjo da Esphinge


Leon posa no muro grafitado pelos
jovens turcos do K-36 em Berlin



A Cidade está nervosa
Meu Coracao está em chamas como Paris
A Polícia nao me ve
Porque estou invisível
Só o meu Amor
Me decifra e me devora

A Cidade está nervosa!

EU, RIO


















Anjo da Parada Gay, em Berlin 2002



o leopardo
ruge
na floresta

o mago
evapora-se
na megacidade

o hiper-satélite
espia
para o comando secreto

a modelo
se abre
ao diretor de tv

a polícia
vigia
os "pretos suspeitos"

muita coca
gafungada por
narizes bacanas

eu aprecio
as modas
e me aguardo

o pivete
cheira cola
e delira na rua

o americano babaca
é abatido
em copacabana

"a mondian
também se chega
pelo acougue" (W.S.)

os loucos d´engenho di dentro
falam com deus
via dra. nise: cambio!

a passarela
era toda
da porta-bandeira

escondeu a bandeira
debaixo do
maior rai-ban

o artista morreu de aids
e virou
santo na hora

fugiu da mansao
pra dancar
no baile funk do morro

fui!... porque
o bicho pegou
na central do brasil

Quindim da Central


baiana Damiana, Tangará Tanz, 2005

"como uma música de Carlinhos Brown"


bicicleta
na AlfaOmega
da Muqueca
da Baiana do Quindim

white mouse
do UniBomber
na catraca
da Central do Brasil

pega na Kalunga
do Piauí
brabo na Viola
do seu Legbará

moca turca
lá de Berlin
diga que Kreuzberg
vira Stambul

moca Damiana
do Tangará
leva o tabuleiro
para o seu Obá

Tuesday, November 22, 2005

O Poema no Asfalto e no Espelho



O menino procura
o seu poema-imagem
no espelho
e satisfeito sorri
para si mesmo
confiante
na sua poética
infantil e mágica
















Leon desenha
o seu poema
no asfalto

Na Berlin Histórica



Curiosas
elas me observam
por trás da vitrine
da Berlin Histórica
em suas sinas de
Bonecas antigas





No mesmo local histórico
onde Berlin nasceu

há séculos e séculos e séculos atrás
A estátua grega danca ao vento

para mim fotografá-la




Cuba e Soweto
se encontram
de repente
em Berlin

- Ai de mim!...




Em Berlin-Mitte
pego o Träm de Falkenberg

Mas nao chego
ao Paraíso...

Arte Ocidental III - Carlitos


Carlitos, Goeldi


Estou só com os meus botoes
e de repente nos resquícios de minha memória
nao sei de onde nem porque
me aparece a imagem de Carlitos
entre as engrenagens
da Grande Máquina Industrial
do meu pensamento

E eu como uma Santa Clara
projeto Carlitos
na parede branca do meu quarto
enquanto a chuva
(orquestrando lá fora)
sonoriza o espetáculo

A madrugada de meu sábado de Aleluia
em pleno 1993
é cinemathographica & muda
- um anjo antigo e engracado
saiu das trevas
e veio à luz
para falar comigo

Repentinamente
como se nada esperasse de nada
Carlitos foge em desabalada carreira
nao sei pra onde
perseguido
por um guarda furioso e bigodudo
balancando um cacetete
maior que a cidade inteira

A crianca de mim
cai na gargalhada
e se mija toda
de tanto rir!

A Tristeza de Anjo-Samo


Notary, Basquiat


Anjo-Samo
por trás da janela
entre as vidracas
espia a rua
e a neve que cai
lá fora

Anjo-Samo
está hoje um pouco triste
e a tristeza de um anjo
dizem,
pode durar uma
infinita e perpétua
eternidade

Um anjo
nao pode se apaixonar
e Anjo-Samo
apaixonou-se
p e r d i d a m e n t e
pela teen do ap.320

Anjo-Samo
hoje está
completamente
perdido

Anjo-Samo
pode virar
uma pessoa
como castigo

Agora uma
clara lágrima-pérola
molha a face negra
de Anjo-Samo

Eu nunca vi
anjo chorar
- chorar é humano
Anjo-Samo!...

Basquiat - Anjo Negro do Brooklin


Jean-Michel Basquiat com:
Andy Wahrol, Gary Oldmam, Dennis Hopper
Foto: Jean-Michel Basquiat


Basquiat.Amorites



Samo= Jean Michael Basquiat
Anjo Doido
caído do Brooklin.
Surgiu na cena pop de New York
como um ousado
grafiteiro punk
perturbando os artistas burgueses do PS1
depois botou dreadlocks
e constatemente drogado
em "smack"
construiu em plena perturbacao cotidiana
as suas mais possíveis obras primas
enquanto seus dentes comecavam a ruir
e sua pele ficava coberta de pus e feridas
como o Aleijadinho.

Soube de Samo
numa reportagem d´O Globo
num dezembro qualquer de
minha vida suburbana.
Depois li sobre ele
nos "Diários de Andy Wahrol"
- aquela bicha loucartista de perucas pratinadas
e latinhas de sopa e fotos de polaroides...

"Samo como uma alternativa para Deus"
Assim Basquiat se anunciava nos muros
das galerias de artes do SoHo
enquanto comia a Madonna
que ainda nao era a Madonna
num quarto-studio imundo do Bronx.

Samo pintava um olho na tela
e escrevia dentro:
"eye"!
e ia todas as noites ao Mudd Club
e paranóico berrava pelas
madrugadas cocainomanas
que a CIA queria matá-lo
e jogar seu corpo nos jardins da mansao
de John Waynne em Berverlly Hills.

Samo dava rasantes entre os prédios metálicos
do centro financeiro de Manhattan
como um helicóptero mortífero
de filme americano
um míssil inteligente
uma instalacao reciclável
um poema escroto pixado nos muros
e vomitava sua bilis e sua alma
sobre a cidade que nao dorme nunca...

Quando se sentia fraco demais
corria para o Haiti
para falar com os voodoos de sua mae.

Mas Samo, que era Basquiat
morreu de "speedballs"
- uma droga pesada:
mistura de coca com heroína
em plena flor de seus 28 anos anos
e New York assistiu a seu enterro
tocando um blues dos mais tristes...

E como ele era Negro como eu
Andy Wahrol achava que ele fedia
e tinha sangue woodoo -
- "T´esconjuro"! - dizia se benzendo Andy
enquanto tocava punheta em Basquiat
num dos studios do Factory Arts.

"Same Old Shit" -
Basquiat
Samo = "Sempre a Mesma Merda"!


Basquiat - Foto: William Coupon






Rosa Negra Press





Pequenos demonios belos e coloridos
atormentam meus dias
Um é pequeno e negro-mulato
e gosta de tocar uma flauta de bambú
que ganhou de um índio tupinambá
nos primódios dessa terra tropical

Outra é um demonio-femea
sedutora e maligna, de língua estrangeira
que ontem transformou meu coracao
num pandeiro de escola de samba

Aonde vou lá estao esses demonios
fazendo suas festas
e dizem para todos
que sao meus parentes
mais íntimos!...
===============================
Hoje acordei histérico
botei fogo no prédio
e fui na Estudantina
bailar com Maria Antonieta

E lá estavam aqueles demonios
Um tocando sua flauta
Outra bailando com um pé-de-valsa
e vestida toda de verde-e-rosa






Friday, November 11, 2005

O Candidato Fulano de Tal




O dr. Fulano de Tal
Que nunca tinha entrado numa favela na vida
Foi à comunidade cercado de segurancas
Que dizia serem seus assessores diretos.

Lá na comunidade beijou criancinhas
Apertou a mao do povo
Posou para fotos com os mais velhos
Bateu cabeca para o Caboclo Sete Luas da Jurema
no Terreiro de Mae Onorina de Ogún Rompe-Mata
Prometeu mundos e fundos:
Disse que iria fazer daquele lugar
Um bairro modelo
Disse que gostava dos pretos
E que era mestico desde que nasceu
Prometeu emprego para os mais jovens
Escolas, sistemas de esgotos
E saúde para os doentes
Disse que apoiava a luta dos índios
e dos nordestinos camponeses
Disse também que era um operário do povo
E que tinha vindo do povao...

Eleito, sumiu da comunidade
E nunca mais foi visto em lugar nenhum
E quando alguém da comunidade
Ia procurá-lo em seu gabinete
Para cobrar as promessas ditas
Mandava dizer que nao estava
Ou mandava seus segurancas
Jogarem o incauto perturbador da ordem
No olho da rua
Ameacando chamar a polícia e o exército
Para invadir a comunidade,
Antro de bandidos e traficantes.

Hoje o deputado fulano de tal
Prepara-se para as próximas eleicoes
E já escolheu outra comunidade
Para iniciar o seu apoteótico cinismo...











Thursday, November 10, 2005

O Blogg dos anjos


Abro esse blog como uma porta
Nessa porta há um anjo negro
que me proteje e vigia a casa
Enquanto Paris é incendiada...

Meu nome é Ras Adauto
e sou do Rio de Janeiro
Hoje habito Berlin, a cidade dos anjos
Enquanto Paris é incendiada!!!!