Wednesday, June 25, 2008

Eu nasci das pedras, hoje sou um índio metropolitano!



Eu nasci das pedras
Por isso sou assim duro
como as águas dos rios
e uma onça na espreita
Tenho o gosto de todo mundo
e debaixo de minha língua
mora o sol
Ainda ontem eu era
uma nação indígena inteira
hoje sou um índio metropolitano
e no meu coração
mora o condor dos Andes

Eu nasci das pedras
e me desfolho no ar
como um segredo de pajés
que civilização ocidental nenhuma
sabe decifrar

Eu nasci das pedras
e trago dentro de mim
aquilo que o poema dos Tupinambás
e a flauta dos Kamayurá
marcaram no corpo infame
do Brasil!

Eu nasci das pedras!

Ras Adauto Berlin
26.06.2008

Tuesday, June 03, 2008

O cavalinho negro de clinas negras de seda



Era um cavalinho negro

De clinas negras de seda

Que brilhavam ao sol

E ia o cavalinho por aquele caminho

Onde passam todos as memórias

Passam todas as histórias

E todos os bichos,

desde os mais simpáticos

até os mais esquisitos

até uma onça raivosa

dizem que passou por aquele caminho

e ia por ali o cavalinho negro

de negras clinas de seda ao sol

e encontrou o menino

sentado numa pedra

bem na beira do caminho

e ao ver o cavalinho negro

de clinas negras de seda

o menino quis logo

possuir aquele cavalinho

mas o cavalinho negro

de seda as clinas negras

lhe disse com todas letras e ypsilonis

pois é, esse cavalinho falava

como as gentes

e falou com o menino

menino eu não sou

nenhum brinquedo

nem propriedade de ninguém

me deixe passar por esse caminho sossegado

pois não posso faltar ao encontro

que tenho com meus parentes

lá no por do sol

e quando o menino se deu conta

lá ia lá longe o cavalinho negro

de clinas negras de seda

sumindo no fim do caminho

em direção ao por do sol

e coube ao menino

sentado à beira do caminho

ficar imaginando que tudo

o que tinha visto e ouvido

não passava de um sonho

ou um delírio febril por causa

do sol quente que queimava

em cima de sua cabeça

mas lá longe, bem de longe mesmo

veio um relincho de cavalo

trazido pelo mensageiro do vento

que soprou de repente

naquele caminho de sol


Ras Adauto, 02.06.2008