Wednesday, January 04, 2006
O SERTÃO DE SER TÃO
"O Sertão não é pra qualquer um!"
O tempo passa, mas o sertão continua
e é sempre o mesmo e mais nenhum
esperando as benesses de Deus
e a ajuda dos políticos que nunca vem.
Meu bisavô Galdino de Serrinha
enfrentou Satanaz na entrada dos
sertões da Bahia
e morreu de velho no Rio de Janeiro
e nunca deixou o sertão
Ele me disse em menino:
- Esse menino, voce num é tabaréu,
voce é outra coisa que seja;
pois eu lhe digo:
Sertão é para um nunca mais
mesmo que corra todos os séculos
o sertão é de homens e mulheres
que sabem o que ele é
- seca, fome, esperança tarda e peleja
Sertão até Deus duvida!!!!..."
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O SERTÃO DE SER TÃO
"Sob a égide de Joao Guimaraes Rosa
e do Vaqueiro Galdinho de Serrinha- Meu Bisavo!"
O Sertao é onde a gente habita
às vezes uma Vida Inteira
O início e o fim de tudo
- De jeito nenhum.
A esperança é seca: Nonada!
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Quando a gente morre
vira tudo:
vira vento ladainha pó de estrada
sussurro na moita assombração de menino
- matemática de não ter mais hora nenhuma.
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De noite
naquele breuzão de não ter mais tamanho
são os grilhos tocando flautas
parabelum de tocaia
escorpiões encalacrados
menino chorando de fome
piadeira de agouro.
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Quando chega a noite
o fim do mundo
fica na ponta da língua
- sal sem comida
sono sem rede.
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Quando chove
ninguém acredita
pensa com pensamento doido
quié delírio de fome
malícia do Cão.
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Sertão é como morrer
ninguém sabe muito bem
o quié;
só Deus e a Defunta
Depois se esquece:
vento levou ? carcará comeu?
Sertão a fora - foram todos!
Sertão de dor mais nenhuma:
A b s o l u t a
- Saudade é pra quem tem!...
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Sertão não se escreve:
só sobre-vida
sub-vida.
Até logo mais
mais um anjinho passando ali
nas duras areias.
Deus é servido... mas esqueceu,
Zebedeu...
Viola de 7 cordas dormindo
ao lado do Parabelum
(a Santa é mãe dos ricos...)
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Veio o Diabo vestido num jibão de couro
cravejado de pratas e cheio de anéis de ouro.
- Quem é tu? - perguntou o Diabo ao Vaqueiro
montado em seu Alazão.
- Sou Galdino de Serrinha.
filho legítimo de Maria Chapadão.
- Quem é teu Pai, Vaqueiro?
- Meu Pai é o "Corre Mundo"...
O Diabo, cheio de malícias e más intenções, arrodeia o Vaqueiro
e seu cavalo. Galdino, esperto, bota a mão no Parabelum,
que foi de João Mata-Rindo de Feira-de-Santana.
Galdino, olho com olho no Diabo, pergunta:
- E tu, estrangeiro, quem é?...
O Diabo, sorrindo e cheio de mesuras:
- O de Todos os Nomes e de Nome Nenhum!...
-E tu é de onde, Estrangeiro?
- Sou do meio do Mundo...Bem dali - e o Diabo apontou o Sertão de Cariri.
Suas pratas e anéis brilhavam tanto que cegaram todos os pássaros agourentos da região. Menos os olhos de Galdino, que mantinha os olhos fixos no Diabo.
- E o que qui tu tá fazendo aqui nessas Gerais, meu Capitão - ainda Galdino, já com o Parabelum na mão.
- Vim buscar Almas pra trabalhar nas minhas Lavouras - respondeu o Diabo, dando um risinho fedorento.
- TE ARRENEGO, Capataz!!! Aqui Um não é Escravo do Cão, nem de Nenhum!!!....
O Parabelum de Galdino cuspiu fogo, repetiu, repetiu, repetiu. Balas de ouro furaram o bucho e a cabeça do Medonho, que dando um grito sumiu numa nuvem de enxofre Sertão a dentro.
De testemunhas: um Acauã e o Cavalo Alazão de Galdinho de Serrinha.
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