Saturday, January 28, 2006
Shortcuts
Pane
Quando dei por mim, meu barraco caiu.
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Paisagem inútil
Quando abriu a janela naquela manhã,
o mar não estava mais lá.
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No Buraco Quente:
Cheirou, pancou!
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Ejaculação precoce
Vai ser bom, não foi?
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Cena de rua
Um tapa na cara. Um tiro na testa.
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Sócrates II
Tomou a talagada da sicuta e cuspiu grosso no chão.
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A Eternidade
Vinte anos depois passamos ali e o velho ainda estava sentado no mesmo lugar, fumando seu cachimbo e remoendo suas memórias.
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Pequena surpresa no óbvio
Nada de novo sob o sol, só a cabritinha que nasceu essa manha cedo.
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Nosferatu IV
Noite alta de lua cheia, uma vontade louca de beber sangue por aí.
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Exposicao inútil
O corpo do jovem negro estava caído numa poça de sangue na avenida atlântica;
Ninguém dava a mínima...
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Estatística
Esqueceu a camisinha e entrou no positivo.
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O cadáver comédia
O defunto no caixão tinha um sorriso cínico, zombando dos vivos que ficavam.
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Cesar
Vim, vi, vaiei!
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O Clone
Eu? Eu, quem?!
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Na comunidade de risco
Com o coracao na mão atravessou a favela da Galinha para visitar a avó doente.
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O elevador
Ninguém se olhava no elevador. Um ódio oculto viajava entre eles.
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A troca
- Quero dar um tequinho aí também...
- Mas depois vou comer a sua buça...
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Transito
Sinal vermelho!... e o táxi avançou!.
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O Assalto
- POLÍCIAAAA!!!! - que gritou a vítima desesperada.
- Mas, eu sou a Polícia! - disse o bandido depenando a vítima
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Tragédia cotidiana
Ninguém entendeu quando Maria botou fogo em João e sumiu no mundo.
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O Dandi
Vestiu o parangolé e foi dar um rolé.
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A Puta de moda
Desfilava pela Daspu na passarela da rua e sonhava que era a Gisele.
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Crime na Classe média
Matou a mãe e foi ao shopping.
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Pane juvenil
A menstruação não veio e Helena entrou em pânico:
- Minha mãe vai me esfolar!
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Em Londres
O Big-ben bateu as horas e o terrorista acionou a bomba.
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Periferia
Os pássaros também cantam nas periferias, entre hip-hop e tiroteios.
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Blues fatal
Enquanto o Katrina destruía New Orleans, ele tocava seu blues na velha guitarra, como se fosse pela útlima vez.
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O Defunto distraído
E quando deu por si, estava defunto e todo engravatado
num belo pijama-de-madeira.
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Modinha
Ela pisava nos astros distraída e ele tinha a cabeça na lua.
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Racismo
O porteiro do Copacabana Palace indicou a porta dos fundos para o Preto Doutor.
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Almoco de domingo
O Galo da roseira marcou bobeira e virou galo de cabidela naquele domingo.
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O Poeta bebado
- A poesia às vezes vomita em cima da gente!...
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O Serial killer
- O crime é o creme do criminoso.
E executou rapidamente a sua 367a. vítima.
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O Filme
Um anjo pornográfico me beijou na boca e possuiu minha alma.
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O Krisna
O universo cabe no meu bolso, disse Rama Krisna,
enquanto virava uma vaca.
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Cena bucólica, século XVI
Carioca da gema, Índio de Ipanema.
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Na penitenciária
Estuprou a menininha e acabou virando a boneca do pavilhao 12.
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O Padre pedófilo
(ou Como num filme de Luiz Bunuel)
Padre Leocádio fazia o sinal da cruz e tocava uma bronha no menino Jesus.
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Wednesday, January 25, 2006
Arte Poética
Leon na performance-instalacao "Bolha-d´agua"
ou "a Poética do Mergulho na banheira"
Esquece todos os poemas que fizeste.
Que cada poema seja o número um.
(Mário Quintana)
O poema não se explica
Como não se explica o acaso de um dado lancado
Como não se explica o caos da natureza
Como não se explica um amor repentino
No alvorecer da adolescência de uma menina
Todos querem explicações de tudo
E quando não tem explicação nenhuma
Entram naquela agonia da ignorância
E criam teses absurdas
E assim se criam esses ridículos doutores
Que tentam explicar até o peido
Dado em um elevador lotado
No centro da cidade
O poema não se explica
Como não se explica de repente
O leão amanhecido em seu quarto
No quinto andar de um prédio
Da Vila Isabel de Martinho e Noel Rosa
...................
O que
Dói
Não se
Remói
A noite
Toda
Se abisma
Na mesma
Dor
De sempre
Como um
Buda
Que se medita
Em sua
Própria
Dor
Iluminada
O que
Dói
Dói
O que
Fica
Na verdade
É a
Dor
Original
Ainda bem
Que vovó
Saravou
E a Dor
Virou
Cangerê
De se
Viver
Aquarela do Ilé Aiyé
Rap: Bagulho Solto
Hoje de manha mataram um delegado!
Pra Sabotagem, Seu Jorge e Paulo Negueba
A Cidade está nervosa
Todo mundo estressado
Hoje de manhã
mataram um delegado
Pra polícia de vingança
Todo mundo é suspeito
Até o trabalhador, coitado
perdeu o seu direito
Saia do barraco pro trabalho
levou um teco no peito
Se voce é da favela
Voce está ferrado
Voce vive o tempo todo
Entre o fogo cruzado
Crianças com escopeta
adolescente com fusil
Na cabeça o Capeta
Esse é o nosso Brasil
Que futuro nós temos
Nessa Comunidade
É mano matando mano
E terror pela cidade
A menina sai de casa
pra se virar na rua
aparece estuprada num beco
enforcada e toda nua
E a cidade nervosa
assiste todo esse drama
uns querem chamar o exército
outros se trancam em casa
se escodem debaixo da cama
e a chapa virou brasa
Quando veem um pivete
pensam logo em assalto
E o menino de só raiva
arrebenta a madame no ato
Que dá um chiligue
em cima de seu salto alto.
(Bem feito!)
Eu resolvi sair de casa
E passear na Cidade
Cantando o meu Rap
Que é uma verdade
Mas eu não sei
Quem escuta minhas rimas e palavras
os ouvidos estão surdos
E não escutam mais nada
A Cidade está dividida
Quem paga essa dívida
E tantos absurdos
De tiros e zuadas
Mas porque essa vida
Na Cidade do Medo?
E tome cuidado
Essa manha bem cedo
Mataram um delegado
e a polícia sangrenta
procura o "culpado"
E a corda sempre arrebenta
Para o lado mais fraco
Que mora lá em cima
No seu precário barraco.
Monday, January 23, 2006
Poemas quase infantis
Jardim
A bela borboleta azul
Suga todo o precioso néctar
Da vicosa flor amarela-ouro
Depois toda avoacada
Pousa por alguns instante
Na ponta da brisa ligeira da tarde
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Cena doméstica
O cachorro late na sala
O gato boceja na cozinha
O menino peida no quarto
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O Sonho
Enquanto o mingau esfria no prato
A pequena Luciana distraída
Sonha com uma boneca preta
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O transito
O guarda apitou
Os carros pararam
E a vaca atravessou a rua
Como se fosse gente
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No zoológico
O macaquinho engracado
Imitou o menino
Chupando sorvete
Que o espiava
do outro lado da grade
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Manha
O sol como uma bola dourada
Correu mansamente
Pelo tapete azul do céu
Empurrando as brancas nuvens
Para atrás das verdes montanhas
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O passarinho Socó
O passarinho comeu o alpiste
E cagou na mesma hora no galho
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O melhor mel do mundo
A abelha-rainha convocou
Toda a sua colméia
Para fabricar
o melhor mel do mundo
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Ossanha
Um orixá todo verde
se escondeu nas folhas
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A fumaca do pajé
O pajé daquela aldeia
Fuma um pito com uma fumaca
Que lhe faz ver
O outro lado de tudo
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A bala-puxa
A bala-puxa se dissolveu
Como um sol negro
No céu da boca do menino
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Leon e seus brinquedos
Leon acordou de manhazinha
E saldou os seus brinquedos
Ainda da cama
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O papagaio e o ladrao
O papagaio falou grosso
E assustou o ladrao
Que entrara pela janela
Da casa de Dona Eulália
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O Sapo apaixonado
O Sapo Cururu
Depois que conheceu
A Prereca da lagoa do meio
Só quer saber
Da viola de sete cordas
O Palhaco Picolino
O palhaco Picolino
Que fazia todo mundo
Morrer de tanto rir
Chorava escondido
Quando tinha saudades
De sua infancia querida
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O Jaboti e o Coelho
O Jaboti perguntou ao Coelho
Porque ele corria tanto
E nao chegava a lugar nenhum..
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O Camelo do Califa
O camelo do Califa de Bagdá
Comeu o relógio de seu dono
Porque queria sentir
Que gosto tinham as horas
Que passavam…
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A Velha bruxa e a beleza
A velha bruxa se olhou no espelho
E se achou a mulher mais linda do mundo
Depois foi dancar uma valsa
Com o seu jacaré de estimacao
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Minha avó e a sua morte
Minha avó fez os biscoitos
para a viagem
Depois deitou-se
E se foi silenciosamente
Para as terras do nunca mais
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O sábado e o domingo
O sábado perguntou ao domingo :
- Vamos dar uma volta por aí?
- Nao posso porque amanha,
segunda bem cedo, tenho que ir trabalhar.
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Marina e o Beija-flor
O beija-flor
Beijou os lábios de Marina
Pensando beijar uma flor.
Marina beijou o beija -flor
Pensando beijar o seu amor
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O carnaval e Helena
O carnaval passou alegre e frenético
Pela triste Helena
Debrucada na janela.
Um foliao vestido de diabo
Jogou-lhe uma flor
Como uma dádiva.
E saiu sambando como nunca…
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O Bigode de meu pai
Meu pai tinha
um grande bigode
Que era o seu orgulho.
Eu nunca consegui ter
um bigode com aquele
Mas herdei o seu orgulho.
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Minha mae e a sua flauta
Minha mae chegava ao portao
E me gritava na rua:
- Dautinhooooo!!!
Parecia uma flauta
Doce e aguda
tocando no mundo.
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Esmeralda
A primeira vez que vi Esmeralda
Fiquei de boca aberta com a sua beleza
Eu tinha 13 anos e ela doze.
E quando ela pegou na minha mao
- Quando íamos para
O Colégio Barao do Rio Branco -
Cai desmaiado dentro do trem…
Um dia Esmeralda sumiu!
Sunday, January 22, 2006
O Túmulo do Candando Desconhecido
Construcao de Brasília, 1960
A primeira vez que pisei em Brasília foi com o Teatro Oficina de São Paulo. Fazia parte do Coro de Teatro e estávamos lá, sob a direção rigorosa de José Celso Martinez Correia, para uma série de espetáculos do nosso trabalho chamado "Ensaio Geral do Carnaval do Povo". Esse espetáculo retratava do ponto de vista do "rebotalho", a imensa galera da base da pirâmide social brasileira, uma visão anárquica da História do Brasil, apartir do suicídio de Getúlio Vargas. Isso foi em setembro de 1979.
Num dia qualquer, entre os ensaios, fui convidado por uma amiga a visitar o "Monumento ao Candango Desconhecido". Esse monumento era uma "homenagem" a todos aqueles "paraíbas" que construíram Brasília e que passaram anônimos pela vida e deixaram o seu suor e o seu sangue misturado ao concreto da "babilônica brasília" e a política "simpática" e "eficiente"de JK. Assim minha amiga me dizia...
Tudo bem: no carro fui imaginando um monumento grandioso, uma grande escultura de mármore preta, com desenhos de Niemeyer e cálculos perfeitos de Joaquim Cardoso e engenharia de Lúcio Costa.. Pois como só conhecia o "Monumento ao Pracinha Desconhecido", aos mortos brasileiros na Segunda Guerra Mundial, monumento esse pomposamente instalado no Rio de Janeiro, viajei comparando este com o que eu esperava encontrar.
Depois de correr alguns quilômetros em direção à periferia de Brasília, o carro tomou o rumo no meio de um mato e de uma estrada de barro. Chegando à um local que hoje não me lembro bem onde era, descemos e andamos umas boas caminhadas. E de repente a minha amiga me apontou o "monumento". Era uma lápide, igual a essas de túmulo pobre de cemitério, enterrada num quadrado de concreto mal feito no meio do barro e cercado de mato. Na lápide estava escrita: "homenagem ao candando desconhecido". Parei, bocó: - ´É isso?"
Voltei ao plano piloto com uma sensação muito estranha dentro de mim. Á noite, no teatro Galpão, quando estávamos em cena, na hora em que o ator Joaquim encarnava J.K. e aquelas misuras todas, quebrei a rotina da peça e baixei num "caco raivoso" um "Candando Desconhecido e Revoltado". E atropelei o JK na cena. Como tínhamos a manha do improviso, rapidamente o movimento original foi recuperado e a peça seguiu seu rumo. Nos bastidores depois saímos na porrada e o "Candando" estava louco... Demorei dois dias para me recuperar do choque.
Hoje, estou em Berlin, e acompanho em várias mídias, principalmente pela Internet, essa babaçao de saco em torno do "Santo e Mártir" J.K. que a TV Globo apresenta em uma mini-série. E o que mais me espanta são as matérias, artigos e notas de uma série de intelectuais, jornalistas e políticos reforçando o mito, sem o mínimo censo crítico elevado da História, como se a verdadeira história fosse a mini-série. E o "Candango Desconhecido" voltou a rondar-me e a me deixar raivoso.
(Tempos depois, quando me aproximei da União das Nações Indígenas (UNI), ouvi de várias lideranças sobre o massacre sofrido por nações indígenas na região para a construção de Brasília. Como soube também depois das centenas e centenas de mortes sofridas pelos "paraíbas", "baianos" e etc, os "candangos", soterrados sob o concreto, o barro e a política otimista e desenvolvimentista de J.K. E além de suas mortes anônimas, esses trabalhores viviam em regime semi-escravo. E isso a mini-série não conta e nem seus intelectuais bajuladores não relatam. Glauber Rocha em seu último filme "A Idade da Terra" fala um pouco disso.)
E o resto é Bossa Nova, DkW Vemag e geladeira Clímax. E até o Lula quer ser o J.K.!
"Candango neles!!!..."
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Candango, segundo cientistas-biólogos, é um rato, encontrado no cerrado de Brasília:
Rato-candango (Juscelinomys candango)
Classe: Mammalia
Ordem: Rodentia
Família: Muridae
Nome científico: Juscelinomys candango
Nome vulgar: Rato-candango
Categoria: Baixo risco
Características: Recebeu este nome em homenagem ao idealizador da nova capital do Brasil. Oito exemplares desse gênero monotípico só foram coletados uma única vez, em área pertencente à Fundação Zoobotânica do Distrito Federal. A espécie foi incluída na Lista de Espécies Ameaçadas da Fauna Brasileira devido ao fato de não existirem registros adicionais para qualquer outra região do Cerrado. Além disso, a área onde os exemplares foram obtidos se encontra severamente alterada pelo processo de urbanização de Brasília.
Comprimento: Em média, machos adultos medem 140mm da cabeça à base da cauda. A cauda é menor que o comprimento da cabeça e corpo, possuindo, em média, 96mm.
Ocorrência Geográfica: Só existem registros da espécie para a localidade onde os tipos foram coletados em 1960. A região de Brasília é central para o bioma do Cerrado, sendo que o local de coleta (altitude de 1.030m) pode ser caracterizado como campo ralo (campo cerrado, na terminologia utilizada por Moojen), revestido de gramíneas.
http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./especie/fauna/index.html
&conteudo=./especie/fauna/mamiferos/candango.html
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Os trabalhadores, as maos de obra escrava que construiram Brasília, eram os "ratos" Candangos. Fala sério, galera!!!!!
23.01.2006
visitem: rasadauto.blogspot.com
www.fotothing.com/rasadauto
Wednesday, January 18, 2006
Bandeirianas: Dramas da Nossa Gente
Drama Ululante 1
Carmelita amava desesperadamente Juvenal
Carmelita trabalhava como doméstica
em casa de madame em Copacabana
Juvenal era estivador do Cais do Porto
Um dia Juvenal disse para Carmelita que ia embora
porque estava amando Dulce Maria
uma baiana recém-chegada.
Carmelita sofrida foi consultar
com o Pai Ambrózio do "Arranca-Toco"
que mandou Carmelita fazer um despacho
para Maria Mulambo numa encruza
na última sexta-feira do mes.
Carmelita fez a Macumba
mas... não adiantou nada!
Desesperada por seu amor perdido
Carmelita tocou fogo em Juvenal
e pulou
da passarela 7
na Avenida Brasil.
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Drama Ululante 2
(da minha infância)
A luz fria sempre refletida
sobre a poça de sangue
que se coagulava no chão da cozinha
do barraco revirado
O assassino era um paraíba sarará
a mulher morta, uma negra de Itaboraí.
A gente foi olhar o corpo
caído em decubito dorsal e seminu
exposto para toda a favela do Vintém
O assassino disse ao jornal O Dia
que a mulher o havia traído
com muitos outros homens da favela
aí ele não aguentou a "vergonha"
Ela era muito bonita
e tinha uma conta de Oxum
no pescoço
e as unhas pintadas de azul celeste.
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Drama Ululante 3
- Menino, me dê essa automática!
- Isso é um assalto, tiu!...
- Cadê o seu pai e a sua mãe?... eles sabem que você
está com essa 9mm, privativa das forças armadas?
- Tiu, isso é um assalto!
- Quem te deu essa arma, Menino?
- A s s a l t o, tiu!... O sr. fala muito, tiu!
Pow! Pow! Pow!
- Isso era um assalto, tiu!!!...
Friday, January 13, 2006
A Rosa de Santa Tereza
Eu me lembro dela
tao bela na Lapa
de todos os tempos
eu me lembro dela
desfilando sua fina figura
toda vestida de amarelo
e jóias de bijuteria barata
perfume de maria bonita
o sorriso maior
que toda a guanabara
e me dizia sempre
ser a mais fiel brasileira
a bandeira do brasil
sem sangue vermelho tingindo
o chao do rio de janeiro
eu me lembro dela
subindo o bondinho de santa tereza
e falando com todos
com sua voz de samba malicioso
de fazer inveja à moreira e bezerra
os da silva e outros malandros
ela me dizia ter uma pomba-gira
de centro de rua
por isso fumava cigarrilhas cubanas
e bebia cachaca com mel
e pintava os lábios
de um vermelho
de fazer inveja a mais
vermelha rosa
do jardim de dona manuela
eu me lembro dela
a rosa de santa tereza
Saturday, January 07, 2006
Política Brasileira
Wednesday, January 04, 2006
O SERTÃO DE SER TÃO
"O Sertão não é pra qualquer um!"
O tempo passa, mas o sertão continua
e é sempre o mesmo e mais nenhum
esperando as benesses de Deus
e a ajuda dos políticos que nunca vem.
Meu bisavô Galdino de Serrinha
enfrentou Satanaz na entrada dos
sertões da Bahia
e morreu de velho no Rio de Janeiro
e nunca deixou o sertão
Ele me disse em menino:
- Esse menino, voce num é tabaréu,
voce é outra coisa que seja;
pois eu lhe digo:
Sertão é para um nunca mais
mesmo que corra todos os séculos
o sertão é de homens e mulheres
que sabem o que ele é
- seca, fome, esperança tarda e peleja
Sertão até Deus duvida!!!!..."
============================
O SERTÃO DE SER TÃO
"Sob a égide de Joao Guimaraes Rosa
e do Vaqueiro Galdinho de Serrinha- Meu Bisavo!"
O Sertao é onde a gente habita
às vezes uma Vida Inteira
O início e o fim de tudo
- De jeito nenhum.
A esperança é seca: Nonada!
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Quando a gente morre
vira tudo:
vira vento ladainha pó de estrada
sussurro na moita assombração de menino
- matemática de não ter mais hora nenhuma.
::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::
De noite
naquele breuzão de não ter mais tamanho
são os grilhos tocando flautas
parabelum de tocaia
escorpiões encalacrados
menino chorando de fome
piadeira de agouro.
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Quando chega a noite
o fim do mundo
fica na ponta da língua
- sal sem comida
sono sem rede.
:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::
Quando chove
ninguém acredita
pensa com pensamento doido
quié delírio de fome
malícia do Cão.
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Sertão é como morrer
ninguém sabe muito bem
o quié;
só Deus e a Defunta
Depois se esquece:
vento levou ? carcará comeu?
Sertão a fora - foram todos!
Sertão de dor mais nenhuma:
A b s o l u t a
- Saudade é pra quem tem!...
::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::
Sertão não se escreve:
só sobre-vida
sub-vida.
Até logo mais
mais um anjinho passando ali
nas duras areias.
Deus é servido... mas esqueceu,
Zebedeu...
Viola de 7 cordas dormindo
ao lado do Parabelum
(a Santa é mãe dos ricos...)
::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::
Veio o Diabo vestido num jibão de couro
cravejado de pratas e cheio de anéis de ouro.
- Quem é tu? - perguntou o Diabo ao Vaqueiro
montado em seu Alazão.
- Sou Galdino de Serrinha.
filho legítimo de Maria Chapadão.
- Quem é teu Pai, Vaqueiro?
- Meu Pai é o "Corre Mundo"...
O Diabo, cheio de malícias e más intenções, arrodeia o Vaqueiro
e seu cavalo. Galdino, esperto, bota a mão no Parabelum,
que foi de João Mata-Rindo de Feira-de-Santana.
Galdino, olho com olho no Diabo, pergunta:
- E tu, estrangeiro, quem é?...
O Diabo, sorrindo e cheio de mesuras:
- O de Todos os Nomes e de Nome Nenhum!...
-E tu é de onde, Estrangeiro?
- Sou do meio do Mundo...Bem dali - e o Diabo apontou o Sertão de Cariri.
Suas pratas e anéis brilhavam tanto que cegaram todos os pássaros agourentos da região. Menos os olhos de Galdino, que mantinha os olhos fixos no Diabo.
- E o que qui tu tá fazendo aqui nessas Gerais, meu Capitão - ainda Galdino, já com o Parabelum na mão.
- Vim buscar Almas pra trabalhar nas minhas Lavouras - respondeu o Diabo, dando um risinho fedorento.
- TE ARRENEGO, Capataz!!! Aqui Um não é Escravo do Cão, nem de Nenhum!!!....
O Parabelum de Galdino cuspiu fogo, repetiu, repetiu, repetiu. Balas de ouro furaram o bucho e a cabeça do Medonho, que dando um grito sumiu numa nuvem de enxofre Sertão a dentro.
De testemunhas: um Acauã e o Cavalo Alazão de Galdinho de Serrinha.