Monday, March 20, 2006

O Bonde dos Meninos contra o Caveirão

Olha o Caveirao aí, gente!!!

A Infância perdida ou o Bonde dos Meninos contra o Caveirão

"Alto-falantes montados na parte externa do veículo anunciam repetidamente a chegada do caveirão: "Crianças, saiam da rua, vai haver tiroteio" ou de forma mais ameaçadora: "Se você deve, eu vou pegar a sua alma". - Fonte: Justiça Global:


“Eu quero destruir o Caveirão
Ele já matou muita gente na favela”
Diz o menino do bonde-mirim
Para o repórter do jornal O Dia

Eu quero destruir o Caveirão
O Bicho Papão nos pesadelos das crianças da favela
O menino então simula uma guerra de polícia
Sem tréguas nas vielas do morro
Com pedaços de pau
Que são seus fusis e morteiros

E dá uma ordem como um comando treinado
À sua tropa de meninos do bonde:
“Depois do destruir o Caveirão
Vamos detonar o Bope
E depois derrubar o Bisourão do Exército
Que dá rasantes na favela...”

(Ras Adauto, 19.032006)

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Foto: Agencia O Dia

No Morro da Providência, palco dos maiores conflitos entre Exército e traficantes durante as operações de busca dos dez fuzis e uma pistola roubados de um quartel, a guerra cotidiana já afeta até o imaginário das crianças. O Caveirão, carro blindado usado pelo Batalhão de Operações Especiais (Bope) da PM, usado em outras operações na favela, virou recurso para as mães assustarem os filhos mais levados.

— Agora, a gente nem precisa botar as crianças de castigo. É só dizer: “Cuidado que o Caveirão está vindo”. Eles não saem de dentro do quarto de jeito nenhum — conta uma moradora da Providência que, como praticamente todos na favela, teme se identificar.

Os moradores explicam que o medo das crianças não é à toa. Nas incursões do Bope, elas seriam chamadas por policiais no alto-falante do veículo de “sementes do mal”. Na Favela Nova Holanda, como protesto, moradores montaram, no dia 22 passado, o mural da violência, repudiando o uso do Caveirão. Uma semana depois, o mural foi atingido por tiros, possivelmente, dados pela PM. Para Jailson, só o formato do Caveirão já agride:

Histórias dos cariocas que vivem na zona de guerra

Ruben Berta e Vera Araújo

http://oglobo.globo.com/jornal/rio/192330082.asp

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Rio de Janeiro: Campanha Contra o Caveirão

Enviado por mtst em Sex, 10/03/2006 - 18:01.

O caveirão e o policiamento no Rio de Janeiro:"Vim buscar sua alma"


(...) O caveirão é um carro blindado adaptado para ser um veículo militar. A palavra caveirão refere-se ao emblema do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE), que aparece com destaque na lateral do veículo.

Nas operações realizadas pelo caveirão, a polícia faz ameaças psicológicas e físicas aos moradores, com o intuito de intimidar as comunidades como um todo. O emblema do BOPE - uma caveira empalada numa espada sobre duas pistolas douradas - envia uma mensagem forte e inequívoca: o emblema simboliza o combate armado, a guerra e a morte.

O tom e a linguagem utilizados pela polícia durante as operações com caveirão são hostis e autoritários. As ameaças e os insultos têm um efeito traumatizante sobre as comunidades, sendo as crianças especialmente vulneráveis. Alto-falantes montados na parte externa do veículo anunciam repetidamente a chegada do caveirão: "Crianças, saiam da rua, vai haver tiroteio" ou de forma mais ameaçadora: "Se você deve, eu vou pegar a sua alma". Quando o caveirão se aproxima de alguém na rua, a polícia grita pelo megafone: "Ei, você aí! Você é suspeito. Ande bem devagar, levante a blusa, vire... agora pode ir...".

O governo do Rio de Janeiro diz que um dos principais motivos para a utilização do caveirão é a proteção dos policiais em operações nas comunidades, mas por trás dessa justificativa, esconde-se uma ação militarizada baseada na noção da letalidade policial apresentada como eficiência, onde o "inimigo" deve ser eliminado. Encurralados entre a polícia que ataca as favelas e os traficantes que aí se instalaram, as comunidades mais pobres do Rio estão sendo vitimizadas e associadas ao crime.

A adoção dessa política de segurança pública que combate a violência com violência, utilizando uma estratégia de confrontação e intimidação, pouco colabora para a segurança dos policiais, que têm morrido muito mais fora das operações policiais, no chamado "bico" ou em episódios de vingança.

A polícia tem o direito legítimo de se proteger enquanto trabalha. Mas também tem o dever de proteger as comunidades que está servindo. O policiamento agressivo tem resultado em grande sofrimento para as comunidades pobres do Rio, bem como sua perda de confiança na capacidade do estado de manter e garantir a segurança.

A polícia mata centenas de pessoas a cada ano no Rio de Janeiro. Os padrões de investigação são baixos e, na maioria dos incidentes, os policiais envolvidos acabam impunes. A polícia declara repetidamente que as vítimas eram traficantes de drogas que morreram durante um "confronto". Oficialmente, estes episódios são registrados como autos de resistência, uma categoria abrangente que subentende o uso de auto-defesa por parte da polícia. No entanto, em inúmeros casos, existem indícios de que ocorreram execuções extrajudiciais e uso excessivo de força.

Com o caveirão, tornou-se extremamente difícil responsabilizar a polícia em casos de violência. Embora, em teoria, devesse ser possível, através de investigações balísticas, traçar a origem das balas para as armas individuais que as dispararam, na prática este procedimento não é usado e raramente são feitos exames. O anonimato dos policiais quando operam dentro do caveirão agrava o problema. Em conseqüência, os policiais atiram nas comunidades de dentro do caveirão sem medo de serem identificados e processados.

Para as organizações que promovem essa campanha, o caveirão é um símbolo poderoso das falhas da política de segurança pública do Rio de Janeiro. A segurança para todos jamais será alcançada através da violência e da intimidação. Uma política inclusiva de segurança pública, baseada em técnicas de investigação e no respeito pelos direitos humanos, tem que ser introduzida sem demora. Somente então acabará o ciclo de violência no Rio de Janeiro.

A campanha será lançada simultaneamente no Rio de Janeiro e em Londres, na próxima segunda-feira, dia 13 de março. No Rio de Janeiro, o lançamento será às 15 horas, em frente à Câmara Municipal, na Cinelândia.

A Anistia Internacional coordenará uma campanha de remessa de cartões postais à governadora do Rio de Janeiro, Rosinha Matheus. As organizações brasileiras vão coordenar a coleta de assinaturas de um abaixo assinado pedindo o fim da utilização do caveirão.

Maiores Informações: redecontraviolência@grupos.com.br | global@global.org.br

Fonte: Justiça Global:

Av. Beira Mar, 406 sala 1207

20021-900 - Rio de Janeiro - RJ
Tel.: + 55 21 2544 2320
Fax: + 55 21 2524 2485



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