Wednesday, February 28, 2007

A História de Juvenal da Paraíba em S.P.


Detalhe da pintura "Os Colonos",
de Di Cavalcanti

Nenhum lenço branco de saudades
Balançou para Juvenal no cais do porto
Quando partiu das Paraíbas
Para São Paulo

Levava apenas uma rota mala
E uma esperança cega de se salvar
da fome e da miséria
Nas Paulicéias

Sabia fazer o que, Juvenal?
Capinar uma roça inteira?
Usar uma peixeira com precisão para destrinchar um bode?
Tocar uma rebeca como o Cego Deraldo
Que corria os sertões imenso gritando: Luz!?
Matutar pelas beiras dos caminhos
Como tantos outros aflitos
Desse imenso Brasil interior?

Nas paulistas Juvenal teve que aprender duro
A ser rápido e rasteiro
Correr dos meganhas na Estação da Luz
Dormir em uma cama imunda
Onde dormiam mais 3
Numa espelunca
Que chamavam de Pensão do Bexiga
E a usar um trabuco
Com o qual matou um baiano
Por causa de um copo de pinga
Na casa de uma puta
Conhecida como Moça Flor

Tuesday, February 27, 2007

DIALOGANDO COM O POETA OSWALD DE ANDRADE


Retrato de Oswald de Andrade
por Tarsila do Amaral, 1922

DIALOGANDO COM O POETA OSWALD DE ANDRADE

-
Re-lendo, nas minhas horas possíveis de descanso, às "POESIAS REUNIDAS" do Poeta paulista Oswald de Andrade, o grande Clow do Modernismo brasileiro, me deu vontade de fazer algumas intervenções. E como ele fez muito bem nos anos 20 e 30, resolvi "antropofagiá-lo" um pouco. Baseando-me em suas poesias do Livro "POESIA PAU BRASIL"(1923), que uma amiga de Faculdade de Letras chamava "Poesia Pau do Brasil"; e no "Manifesto Antropofágico" (1925). Aí deu mais ou menos o que temos abaixo:
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SAMPLE ADAUTIANO DO GLUTÃO OSWALD DE ANDRADE do BRASIL VARONIL


"Só me interessa o que não é Meu" (Oswald de Andrade).
"Só a Antropofagia nos Une. Esteticamente. Filosoficamente". (Oswald de Andrade).
"O Gênio da Raça é uma grande besteira" (Oswald de Andrade).
"O verdadeiro artista é o vampiro da raça. Vive das obras alheias" (cineasta francês Jean-Luc Godard
).

“O que é plágio, o que é comelância? – Pra Botocudo nenhum botar defeito!



A Máquina Tomada: Uma Sugestão de Blaise Cendars:

”tendes as locomotivas cheias, ides partir.
um NEGRO gira a manivela do desvio rotativo em que estais.
o menor descuido vos fará partir na direção
oposta ao vosso destino”.

E aí, babau "democracia racial"...

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Virtuoses de Pianos de Manivela

Onanistas de Pacaembu
abrem concurso de punhetas


o guarda-de-transito pediu passagem
para as
Odaliscas do Morumbi
e para a passeata gay que festivalizava a rua Augusta

com um Cristo de Lucrécia Bórgia de Porta-estandarte

Todos os papagayos aplaudiram
e as maritacas ficaram histéricas de felicidade
querendo ver de novo...
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O meu primeiro caderno de poesia
o fogo lambeu...

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Oração

No céu, no céu
Com "sua" mãe estarei
.

Depois iremos dançar a chula
numa Catedral de Samba
...
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Internet

1

Bestona Querida
Estou sofrendo horrores
Sabias que eu ia sofrer
fiquei nas mãos dessa gente deprimente da Casa Grande
Que tristeza essa casa do Lavradio,
até os grilos estão um porre!...

O que me salvam é essa pinga mineira
e essa menina brava das paraíbas
...

2

Que alegria teu e-mail
fiquei tão contente
que fui à uma missa carismática
(t´esconjuro bangalô 3 vezes
!)

Na igreja toda gente me olhava
com olhos gulosos

ando desperdiçando beleza
longe de ti
...
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ANACRONISMO & OUTRAS MUMUNHAS MAIS

O português ficou comovido de achar
um mundo inesperado nas águas
e disse: ESTADOS UNIDOS DO BRASIL!


Um negro de lindos dentes de marfim
falou para o Botocudo emplumado
da Taba de Jabaquara:

- "Bote fogo nesse portuga, parente!..."


Depois saíram de braços dados
e colocaram uma Escola de Samba
na Avenida Palmares...

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Riquezas Naturaiz

Muitos metaes pepinos romans e figos
De muitas castas.
Uma infinidades.
Muitas cannas da çucre
Infinito algodam
Também há muito paobrasil
Nestas capitanias


E tem moçoilas casamenteiras já passadas
esperando maridos que nunca chegam
Uma infinidades.

Muitos pintos calçudos fumando uma erva danada
embaixo das bananeiras
.
Também há muitos paroaras e indios desgarrados
chupando picolé de cajú na Estação da Luz.
Destas capitanias
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Os Poetas da Minha Terra
São Negros embaixo das bananeiras


Depois todos vão dormir

O tempo das Senzalas acabou!

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Aquele Amor
Nem me Fale


Senão faço e Aconteço
e não respondo por mim
!
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Promontório(s)

Que há por aí?
Amor
Chuvas ao longe
Mormaço
Mentira
Radar


Que há por aqui?
Crimes de novelas
171 dos parlamentos
Tico-ticos no fubá
pancadões de pós malhados

pastores vendilhőes
padres sodomitas
Surubas
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Quindim da Central

bicicleta
na alfaOmega
da Muqueca
da Baiana do Quindim

white mouse
do un@Bomber
na catraca
da Central do Brasil
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Duas istóryas de Yndio

1

Tupinambá Reverse

Eat Me
Again!
..........

2

Indio Bebum na Cidade Grande


tupã
tupy

pitú

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Pretu Véi

Pretu Véi do Canindé
lá no meio dos Cafundó
sonhou com a Princesa Isabé
Ora vejam só
Tomando rapé
Cheirando a chulé
...
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HAI-CAI

Yara desarvora
na Lua Cheia

depois chora.

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Mestre Vavá da Purificacao

Mestre Vavá da Bahia
Foi ele quem me dizia

São Bento Pequeno Cavalaria:

"Antes era tudo Angola
Angoleiro Angolinha"

E berimbau respondia:

"E tim-tim-tim,
Ó não-não-não"

"E viva a professora Zilda
que moça de estimação
que levou o Maculele
pra televisão..."

- Tá danado da vida, Tit-ticoi-tico?

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O Alpinista
de Alpenstock
desceu
nos
Alpes


comendo
Alpiste.

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Oracao II

No Pão-de-Açucar
De Cada Dia
Dai-nos Senhor
A Poesia
de Cada Dia


No Pão-de-Açucar
De Cada Dia
Livrai-nos Senhora
Dos Arrastões
De Cada Dia

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Querida Bestona!
Hoje pensei em você quando acordei
Passei a noite toda sonhando
que era um piano
no meio de um vasto oceano verde.

Ouvi música até tarde.
Fumei uma diamba de pernambuco.

Um morcego rastaquera cruzou
nervoso toda a sala
e sumiu atrás da televisão.

Ninguém apareceu no elevador.

Comi pouco
sonhei pensei
Enlouqueci

Do seu, Zanzibar!

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ÈBÓ

Filho dessa casa
leve isso a Èsù

Corre, depressa...

- Èsù, aceite o presente!
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ARACY

- Aracy, Mãe do Dia
cadê as Meninas?

- Desceram o Tapajós
cheirando a alecrim
para encontrarem
o Boto namorador.

- E aí, Aracy?

- Depois é só Curumins e Cunhantãs
pra tudo quanto é lado;
se um/a morre a gente enterra
no fundo da floresta.

- E depois, Aracy?

- Selva, seu moço,
aparições e milagres.

- E o que mais, Aracy?

- Ah!, se o senhor quiser me trazer
um vestido bonito lá de Belém
será do agrado meu.
Eu também sou moça
e gosto muito das bonitezas da vida.
Todo dia me lavo no Amazonas
me penteio, me perfumo toda
E já pari mais de mil curumins
por esse mato tudinho...

- Então até logo, Aracy!

- Até logo, moço bonito
Bom dia
E não se esqueça das minhas prendas!
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agosto 2003

O POETA & O SOLDADO



"Não conseguiu fazer
o grande pacto entre o cosmo sangrento e a alma pura: guerreiro defunto mas intacto (tanta violência mas tanta ternura)" . Mário Faustino

O ARAUTO:

Tantas vidas desperdiçadas
tantas batalhas inúteis
tantos sonhos desfeitos
na sangrenta aventura
e a pura alma amordaçada
tentou decifrar para os futuros
aquela inútil e titânica ventura
com suas palavras de fogo
entranhas sangrentas e amargura
e o poeta dizia com toda a sua candura
tanta violência/ mas tanta ternura...



O SOLDADO:

Eu fui mandado
com todas essas armas
para ocupar esse território;
fui treinado para isso:
- ocupar. matar, desintegrar
sou pago para isso
minhas armas poderosíssimas
são os complementos finais
de minha alma hoje em dia:
matar ou morrer
é o mesmo calibre
- fui exaustivamente
treinado para isso:
morrer ou matar!...


O POETA:

Ontem sonhei
Anteontem sonhei
e acordei no meio
da terrível realidade:
não bastam somente às palavras
que são as palavras
sob a eminência de permanentes tragédias
e chacinas de pessoas
no Rio de Janeiro
na África
na Bósnia
no Afeganistão?!...


O SOLDADO:

Quantos já matei?
Não sei. Milhares. Milhões.
Sou um serial killer bem programado
em circuitos perfeitos;
quando aponto minhas armas
mortíferas e certeiras para um alvo
só tenho uma determinação
uma só ordem: destruir
totalmente o alvo.

Não existem certo ou errado
no meu mundo
existem a ordem suprema
as armas em minhas mãos
o alvo a ser atingido
e o meu desempenho inabalado.

Sentimentos?
Não os tenho nenhum
tenho boa mira
e a obstinação de destruir
definitivamente o Alvo
que podem ser cidades
aldeias carros de combate
usinas monumentos populações civis
- todos são o Inimigo, o Alvo
se essa for a ORDEM!...


O POETA:

À vezes ando pelas ruas
e não me sinto mais
turbilhões de sinais e ícones
tentam chamar a minha atenção
e quantos cadáveres caminham
por essas ruas!...

Vejo toda essa programação mórbida
que me atormenta
enquanto meu coração pede
i n s i s t e n t e m e n t e:
VIDA VIDA VIDA
como um mantra interminável
uma última oração
no meio do caos
e das íntimas e coletivas tragédias
enquanto caminho entre os cadáveres
máquinas precisas e sedutoras
e imagens espetaculares e manipuladas...


O SOLDADO:


Nesses séculos
estive em todas as batalhas
combati em todas as guerras
em qualquer lugar
de todos os hemisférios.

Lá estavam as minhas armas e eu
oscilando no mesmo
e crucial destino:
- matar matar matar!!!

Era a nossa única ORDEM...


O POETA:


Quantas vezes olhei o mundo
de maneira diferente
sóbria esperançosa delicada
amei tidas as mulheres possíveis
com essa mesma sintonia.

Meu coração se derramava por tudo
falava com as coisas
compunha sinfonias incessantes
construía paises azuis
dialogava com os seres que vivem nas sombras
eu era tão jovem
e criava cidadelas alegres
recitava poemas d´amor
ia em todos os lugares:
etiópia constantinopla alexandria urucu-mirim
fui ao reino de Gengis Khan
visitei Akaenathon Nzinga e Carlos Magno
estive com Maria Antonieta em Versalles
saudei Zumbi em Palmares
imaginei conquistas perfeitas
estados generosos
civilizações delicadas
repúblicas anarquistas
conciliei raças e nações belicosas
invoquei deuses de todos os panteões
adorei deusas de todas as seitas
rompi fronteiras inexpugnáveis
dormi ao ar livre como uma onça
voei com as águias a céu aberto
encontrei profetas no deserto
banhei-me no Jordão no Nilo e no amazonas
dancei na Via-láctea a dança do Sol
enquanto morria de amor
nos braços de uma cigana
numa lua resplandeceste
de violinos guitarras e castanholas
como um personagem de Garcia Lorca
em Andaluzia...


O SOLDADO:


Armei milhões de emboscadas
cobri campos e campos
com milhares de minas mortíferas
detonei mísseis em capitais e cidades
degolei cabeças
esmaguei guerrilhas e revoltas localizadas
assassinei políticos e oposições
na américa latina
na áfrica
no oriente
na ásia e oceania
ocupei a europa
nenhuma moral nisso
- é a sentença de uma Ordem Superior
de uma Raça Superior
de uma Missão Superior:
subjugar e destruir o inimigo
onde ele estiver
em todos os continentes da terra

Inclusive destruir esse poeta idiota e fraco
que tenta dialogar comigo...

- Sou maior que Napoleão Átila Júlio César Hitler
sou o Arcanjo do último selo assinalado
meu nome é Armagedon
Eu Sou...e mato tão Completamente!...


O ARAUTO:

O POETA e o SOLDADO
se digladiam no meio do Mundo
como num filme de catástrofes e destruição
Um Anjo branco toca uma trombeta
no umbral da porta principal das Metrópoles
enquanto um Negro Anjo dança
com uma bailarina num trapézio
com as cores do arco-íris
entre o céu e a terra
todas as televisões estão sintonizadas
nessa grande e final loucura
e o sussurro do poeta ainda acalenta:
- tanta violência/ mas tanta ternura...

Berlin 4 de setembro de 2002

Thursday, February 22, 2007

La Virgen de los Sicários


A virgen de los sicários, pistoleiros
do narcotráfico: duas pistolas apontadas
para a cabeca e, no lugar do coracao,
uma granada...


A santa "mártir" da Colômbia
Tem duas pistolas apontadas para a cabeça
E o coração é uma granada
Quando se vai rezar para a santa
O que se reza?:
Para se escapar com vida
Na próxima esquina
Como no Rio de Janeiro?
Para que todos nós tenhamos paz
E a concórdia banhe a cabeça de todos?
Ou pedirmos mais armas
Para a eminente guerra civil
Que toma conta das cidades?

A santa "mártir" da Colômbia
Chora de piedade ou tem iras e ganas
De matar cada vez mais?
Ou quem sabe está meditando
Sobre as gerações futuras
Que nascerão
Cada um/a com uma arma já na mão
Granadas no coração
E na cabeça a frieza dos assassinos
Que as sociedades latinas
Transformaram seus jovens
Famintos, excluídos e narcotraficados
No grande espetáculo da globalização...

Saturday, February 10, 2007

A Cidade e o Pequeno Malabarista



O sorriso é belo
Mas a manhã é sangrenta e povoada de medos
O que se espera desse dia?
O que se espera dessa criança
Que deveria estar na escola a essa hora?

O pequeno menino faz malabarismos
Nos sinais dos trânsitos
E os carros passam com as vidraças
Fechadas de medos e paranóias

Os carros são tão brilhantes
Os dentes do menino são tão brancos
A sua pele reluz negra ao sol
Como uma bandeira de futuro adiado
Mas a cidade é do medo

A cidade tem movimento
Mas a manhã toca uma sinfonia sinistra
E o menino só espera ter alguns trocados
Para levar para casa
Por isso se equilibra
No medo dos carros de janelas fechadas
E pessoas apavoradas lá dentro
Trancadas como num esquife de motor e gasolina

O sorriso é belo como uma escultura de marfim
Num rosto de ébano
Mas a cidade é sangrenta de medos trancados
Em carros brilhantes e velozes