Tuesday, May 23, 2006

A Morte e as Mortes


foto: rasadauto berlin

antigamente,
chegava-se ao cadáver exposto
sobre mesa
e o gurufin formado
e se perguntava
entre uma mordida
no bolo de tapioca
ou broa de milho
e uma talagada
"daquela que matou o guarda"
de estalar os beiços:

- foi morte morrida
ou foi de morte matada
o falecido aí na mesa?

se respondia,
quem sabe uma das viúvas:

- foi morte repentina
ele tava comendo uma rabada
e caiu duro pra trás
entalado.
é a vontade de deus!

ou respondia a mãe do defunto:

- morreu de facada
buliu com a mulher
do zé baiano
acabou com o bucho
e as tripas pra fora
é a vontade de deus!

hoje, vê-se aquela fila imensa
de cadáveres expostos
ensangüentados e furados de bala
em um beco da favela
ou no meio da cidade
em plena via pública

- quem derrubou
esses bandidos?

- ah, foi a rota, o core
foi o bope, o caveirão,
o comando geral,
o partido do crime,
os cavalos-corredores

- bem feito pra esses neguinhos
filhos-da- puta
bandido tem é que morrer mesmo
todo mundo dessa laia tem que
ir para os quintos do inferno
acabar tudo na vala

aí, ô meu! mas por favor,
não publica meu nome não, tá?
sabe como é que é, né?

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