Friday, May 26, 2006
Pintura
Salvem a Natureza - Foto: Ras Adauto
Na palma da mão
Equilibra a criança o mundo
Para ela é a sua bola
E o céu um campo de jogo azul
Sobre o mundo-bola
Pousa uma borboleta
dourada e vermelha
E tudo se dissolve
Numa música só
Tuesday, May 23, 2006
A Morte e as Mortes
foto: rasadauto berlin
antigamente,
chegava-se ao cadáver exposto
sobre mesa
e o gurufin formado
e se perguntava
entre uma mordida
no bolo de tapioca
ou broa de milho
e uma talagada
"daquela que matou o guarda"
de estalar os beiços:
- foi morte morrida
ou foi de morte matada
o falecido aí na mesa?
se respondia,
quem sabe uma das viúvas:
- foi morte repentina
ele tava comendo uma rabada
e caiu duro pra trás
entalado.
é a vontade de deus!
ou respondia a mãe do defunto:
- morreu de facada
buliu com a mulher
do zé baiano
acabou com o bucho
e as tripas pra fora
é a vontade de deus!
hoje, vê-se aquela fila imensa
de cadáveres expostos
ensangüentados e furados de bala
em um beco da favela
ou no meio da cidade
em plena via pública
- quem derrubou
esses bandidos?
- ah, foi a rota, o core
foi o bope, o caveirão,
o comando geral,
o partido do crime,
os cavalos-corredores
- bem feito pra esses neguinhos
filhos-da- puta
bandido tem é que morrer mesmo
todo mundo dessa laia tem que
ir para os quintos do inferno
acabar tudo na vala
aí, ô meu! mas por favor,
não publica meu nome não, tá?
sabe como é que é, né?
Thursday, May 11, 2006
O Poema
tapies antoni brossa
O Poema é um tiro no escuro
As palavras-balas atravessam as almas desprevenidas
E bolem com elas
Algumas palavras são anjos ocultos
Para atormentarem as consciências resignadas
Muitas das vezes um deus e um demônio gêmeos
Confabulam nas entranhas do poema
Contra a humanidade dividida
Outras tantas vezes aves do paraíso
Trazem finas melodias para deleite
De quem escuta o som oculto no poema
Mas todo poema está sempre
À beira de um enorme precipício
E o poeta é o ícaro sonhador
Que se propaga no espaço do nada
e pode se arrebentar lá em baixo
no meio do vale ou das rodovias
Nas horas mais cheias da imaginação
O Poema é povoado de fantasmas
E de mortes repentinas
E de revoltas políticas
E de planos amorosos
ou farsas dantescas
O poema se embala numa rede de aranhas
Bem no centro irriquieto do mundo
Monday, May 08, 2006
Pro Secco
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