Sunday, April 30, 2006
O Silencio
mujer mapuche
O silencio educa os ouvidos
E elabora a profundeza das almas
Ali falam deuses e deusas
As suas músicas mais finas
E os pajés e os griots
Confabulam com os gênios
De suas culturas primordiais;
é no silencio que Shiva, o dançarino
inventou a hatayoga
e através de uma respiração profunda
cantou seu mantra: Om namah shiva ya!
É no silencio que caminham os mortos
E se elaboram novas vidas
Nos ventres das mulheres
É ali que uma orquestra imensa
Do universo toca as musicas
Que fazem todos os seres dançarem
É no silencio onde se inicia
E termina tudo
E onde se precipitam os grandes movimentos
As vezes nas asas de uma abelha
Ou no coração de uma guerreira
Ou nas plantas da floresta da chuva.
O silencio não é só de ouro
O silencio é o emí - a respiração vital
de todas as coisas...
Ras Adauto Berlin
30.04.2006
Saturday, April 29, 2006
Quase um Roteiro
warhol, andy, marilyn
A voz em off recita devagar e pausada:
(sobre uma fotografia de guerra):
uma gota de sangue.
uma palavra.
uma imagem destruída.
Uma gota de sangue.
o circo tocava uma música engraçada
as crianças riam muito e alto
a moca do trapézio era muito bela
e tinha a tez negra como uma escultura de Benin
o avo já bem senil
espiava por trás das vidraças
o desenrolar dos acontecimentos inúteis
enquanto remoia as horas
esperando o seu triste fim
e falava com o nada sobre Pancho Villa
e a revolução mexicana onde ele nunca teve
que horas são ?- perguntou o juiz da toga vermelha
o condenado respondeu: faltam duas horas
para a cadeira elétrica
e aí estarei finalmente livre de todos vocês
o sangue coagulou-se no lugar
onde varou a bala perdida
a tela da tv mostrou-se como uma janela
o americano deposita a terrível bomba mortal
na entrada da porta principal
onde dorme um morcego muito antigo
que horas são ?- perguntou a moca
meu pai e a minha mãe estão mortos
mas as crianças não pararam de rir
do palhaço gaiato dos imensos sapatos vermelhos
o presidente não tinha um dos dedos
o carro brilhante parecia voar
na parede do quarto ficou o furo da bala
e o tigre de bengala adormeceu na sala
depois de devorar toda a família
uma gota de sangue
urubus nos telhados e nas roças
mas nenhuma palavra
o terrorista explodiu quando ainda montava a bomba
que depositaria no vagão 3 do metrô em Londres
que horas são, meu amor ?
é tarde e já vou indo, chau!!!
ele desce a escada em caracol
vai assobiando uma musiquinha inventada na hora
atravessa de repente com um gato preto
- à noite todos os gatos são pardos - diz para o gato
antes da porta da saída do prédio
encontra o velho bêbado
- é o que lhe digo, meu jovem amigo:
esses americanos são uns filhos da puta!
viva a Rússia, diz o bêbado
o velho comunista fora do tempo lhe oferece
a garrafa de vodka:
- veio das estepes, da boa, legítima camponesa!
- não bebo vodka, meu negócio é cachaça, maconha e buceta!!!
- então viva a cachaça, a maconha, a buceta e viva a perestroika da Stanislawiska!
o velho bêbado senta-se no último degrau da escada
ele passa praticamente por cima do velho
abre a porta da saída
lá fora chove torrencialmente.
- porra, que merda é essa ?!...
pensa em voltar para o apartamento da puta marilyn.
olha para o velho bêbado caído no caminho.
o velho nadava emborcado em seu próprio vômito
- cheiro ácido de vodka azeda e bílis.
Sentiu nojo.
levanta a gola do casaco e sai pela chuva.
se pode ouvir no meio da sinfonia da tempestade
as risadas das crianças para o palhaço engraçado
e três tiros disparados não se sabe de onde.
Mário Quintana faz 100 anos
Mário Quintana
Em Julho de 2006
A Mário Quintana comemora-se 100 anos
Quem haveria dê ?
Enquanto procuramos
Onde estão os passarinhos
Nessa selva de pedras e metais mortais
Ele, passarada
Mário Quintana
Sentia vontade de escrever
Simplesmente
Como amar era
Quando a gente
Morava no outro
O que passa, passa
Mário Quintana, passarinho
Eu, ainda, passarada
Escravos de Jô
No mês de julho
Quando meu filho Leon
Comemora seus 7 anos
Nos cem anos
Do poeta Mário Quintana do Brasil
Pois a vida é breve
E o amor mais breve ainda
Como um passarinho
Friday, April 28, 2006
O Conselho Interplanetário
A Terra vista da Lua
O Espaço Sideral
Considerou
Em uma Grande
Assembléia Geral
Em Júpiter
A invasão massissa
Do Planeta Terra
Para deter
Seres petulantes
Do Norte do Planeta
De Explodirem a Lua
Para verem
O que tem dentro
Todos, unamines
Determinaram
Que esses seres
Do Hemisfério Norte
Da Terra
São ameaças
em alto grau
para todo o
Sistema Interplanetário
Uma forca tarefa
Foi criada
Para elaborar
A proteção à
Lua e a seus habitantes,
Inclusive
a São Jorge Guerreiro
E ao Dragão.
Monday, April 24, 2006
O Meu Menino quer ser o Mickey Maus
imagem: andy wahrol
O meu menino
Me falou outro dia
Que queria ser
O Mickey Maus
Eu caí na gargalhada!
Ele me olhou sério
E perguntou-me
Com voz severa:
- Você está rindo de mim
Por que, pai?
Eu sou algum palhaço?
Eu ainda gargalhando
Segurei o seu rosto
Com todo o afeto que
Tenho por ele e respondi:
- Como você quer ser o Mickey Maus
Se você não é americano?
E o meu menino, agora
Com um sorriso maroto entre os lábios
Sujos do chocolate que comia
Retalhou:
- Mas eu posso ser um
Mickey Maus alemão
Que nasceu em Berlin!
O espelho, minha imagem e eu
As vezes me olho no espelho
E nao me reconheco
Uma luz entre meus olhos
e a minha imagem refletida
É meu passado agora que me olha
do lado do avesso
ou o meu presente que se remoe
nas horas que nao param
correndo com seu trem-bala?
Sou uma pessoa
uma sombra
uma caricatura
de quem me desenha?
me pergunto enquanto me barbeio
mas ali estou eu me vendo
ou melhor vendo um projeto
de mim
uma face que encara a outra face
do outro lado de uma dimensao absurda
enquanto meu filho me fotografa
um dia desses
dentro de um metro de berlin
amanha esterei um pouco mais velho
terei coragem de me olhar nos espelhos
ou ver meus reflexos nas vitrines
das lojas das ruas que passo?
E onde andará o meu retrato
de artista enquanto jovem?
em que esquina ficou?
em que multidao se esqueceu?
em que memória escondeu-se?
em que espelho se talhou
e lá permaneceu e eu nao sei onde?
Thursday, April 20, 2006
Paisagem Morta
Apfel = maçã
Dormes fria no prato
O antigo pecado
Ou a eterna malícia
Azedaram por completo
No tempo de quem
Te esqueceu
As moscas saúdam
Seu funeral biológico
E fazem algazarras
Em seu fim
Amanha uma mão
Indiferente e decidida
Te jogará sem piedade
Numa lata de lixo reciclado
E a imaginar que já foste
Uma intriga de deusas gregas
Símbolo de amantes sequiosos
Parábola bíblica do pecado original
Malícia da serpente primeira
Veneno de madastra má
De conto de fadas
E hoje ali te vejo
Uma maçã apodrecida
Que esquecemos de comer
Estação Noturna
Num barco à deriva sem amor
E sem rumo
Porque martelam as horas
Entre as frutas noturnas
Desse supermercado que nunca
Se fecha?
O guarda veio olhar
O que estávamos fazendo
E o cheiro da maconha
Ganhou o mundo
Enquanto Luiz Eduardo
Fudia uma puta branca e anêmica
Como uma folha de papel
Eu sabia que tudo
Podia desabar sobre
A cabeça de todo mundo
E pedi à caixa do supermercado
Que me trocasse as notas
Em miúdos
E cantei baixinho aos seus ouvidos
Uma canção que falava
De um amor bandido
Que varou a deserto do Sahara
Atrás de uma princesa etíope
A moça deu bocejos nervosos
E vi que em seus olhos
Havia o temor
Pela minha pele negra
Um signo gritante
De tantos preconceitos
E racismos
E eu lhe disse cantando ainda:
"eu não vou assaltar o supermercado nao
e a noite está que é uma beleza hoje,
Voce nao acha?"
Saí comendo um pêssego suculento
E deixei para trás
Aquela estranha paisagem
de paranóias urbanas e consumo
Cruzei com Luiz Eduardo
Fudendo ainda a branca prostituta
Que se desminlinguia em afetos
E gritos estridentes
Entre as latas de massa de tomate
Enquanto o guarda
Preparava sua pistola
Para atirar nos dois...
Monday, April 03, 2006
Poemetos
Anjo Mae Beata de Yemanjá e o Anjo
Dourado de Berlin , SiegeSaule - Foto: Ras Adauto
De uma notícia de jornal
Peso do céu
A imagem de uma santa caiu
sobre o prédio da Administração Regional do Ingá,
destruindo mais de cem telhas.
Padre Waldyr Noronha da Arquidiocese
Especialista em milagres e outras
Estranhezas santas
Foi chamado para atestar o fenômeno
Olhou para a santa caída no chão despedacada
Olhou para o céu, com um rombo enorme
Que não era furo na camada de ozônio
E falou para os repórteres e autoridades presentes:
- É a Nossa Senhora dos Precipícios
e vem coisa por aí...
..................................................
A Esmeralda
Meus primeiros chiliques poéticos
Aconteceram quando tinha 13 anos
E quando no segundo ano ginasial vi Esmeralda
A "mais linda menina" de todo
O Colégio Estadual Barão do Rio Branco...
Ansiosamente escrevi no meu caderno de português
O segunite poema, o meu primeiro:
"Oh, que linda Esmeralda
Oh, que bela jóia preciosa"...
Quando Dona Nair, a professora de português
Dava uma aula sobre Álvares de Azevedo
Disse nervoso e atropeladamente : "Professora, eu também
Escrevi um poema"
E mostrei os versos para ela...
Dona Nair olhou e disse:
- É sobre uma jóia, um anel?..."
......................................
Eu, um Rui Barbosa?
Quando nasci
Conta-se a lenda:
meu pai tomou um porre tão grande
Que perdeu o bonde e a vergonha
E foi parar do outro lado da cidade
e dormiu numa praça...
A todos que iam ver o seu primogênito
Meu pai dizia orgulhoso
Atrás de seu grosso bigode baiano:
- "Esse aqui vai ser um Presidente da República,
um Rui Barbosa...;
Não vai ser um operário que nem eu não,
Um tabaréu da molesta..."
Anos depois, em 1979
Entrei para o Teatro Oficina de São Paulo
E por um ano em cena aberta
Fui o Presidente Getúlio Vargas
Na peça "O Ensaio Geral do Carnaval do Povo"
Uma saga anarquista sobre a história/estória do Brasil
Parte do vaticínio de meu pai
Estava cumprido num palco de teatro...
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