Um dia o meu amor
Fugiu de entre meus dedos
Como um passarinho
Ontem recebi um e-mail seu:
Amor, estou em Paris
Feliz da vida
Com a minha intensa solidão
Espero que estejas bem
E não deixe de alimentar
O papagaio Oswald
E o meu cachorrinho Veludo
Não sei quando volto
Ou se volto
Beijos
Sai na noite e fui
A um bordel
Onde afoguei as minhas máguas
Numa carne viciada
E profunda como um mar
Um pianista cocaínomano
Tocava uma música brega
Tentando alegrar
Aquelas solidões absurdas
Que agonizam ali
Entre copos de conhaque e whiski baratos
Carreiras de pó
Mortes lentas e desenganos
Senti-me um anjo negro naquela noite milagrosa
Na madrugada de insônia e paranóias
Mandei um e-mail ao meu amor fugido:
Amor, morri! Meu enterro é daqui a pouco
Não me mande flores nem ladainhas
Até já!!!!
O silencio, então,
Tocou a sua sinfonia.