me guardo do frio
em uma boa garrafa de conhaque frances
e quentes cobertas
o livro fala de uma revolta no brasil
muitos anos atrás
a televisao mostra alguma
coisa grandiosa da europa
que eu acho uma droga
o telefone toca
agora nao atendo a ninguém
só ao meu amor e ao meu silencio
berlin vibra no assovio
do vento lá fora
as minhas anotacoes
sao garranjos desenhados
no caderno vermelho
que nao é o de mao tsé tung
a saudade do brasil
deixo debaixo da língua
estalada num grosso gole
do bom conhaque
que tive o maior prazer
de comprar na lojinha
da senhora francesa
casada com um senegales
que detesta sarkozy
meu filho adormece
entre seus livros revistas
e games
suas jubas se espalham
pelo travesseiro
e na boneca de pano emília
que ele guarda para a sua
amiga já há algum tempo
as horas martelam
os tigres esconderam-se
atrás ds portas
e confabulam
com os nossos anjos da guarda
desconfio de alguma merda entre eles
mas me reviro
olho meu amor dormindo ali do lado
como uma bastet enrabichada
o conhaque desce redondo
e a batalha no livro que leio
atravessa a noite zunindo
como um blue de Nina Simone
Ras Adauto Berlin
à 1 hora e 30 minutos
16.11.2010
