Wednesday, December 27, 2006

Olho por Olho



O Olho castanho
Tinha muita inveja
Do Olho verde
Porque todo o mundo
Só reparava no Olho verde
E nunca olhava para ele
O Olho verde na verdade
Era uma Olha verde
Um dia o Olho castanho
Resolveu se vingar
Convidou a Olha verde
Para ir à sua casa
E ver a sua imensa coleção
De lentes de contato
Chegando lá a Olha verde
Foi embriada com muito vinho
E maconha
E o Olho castanho aproveitou
E fudeu-a a noite toda
Até a madrugada
Nove meses depois
A Olha verde
Pariu uma linda
Olha caramelada
Mistura de verde e castanho
Aos 16 anos Olha caramelada
Apaixonou-se por um jovem
E altivo Olho negro
Nove meses depois
Pariu três Olhos azuis
Rodeados de um círculo negro
Esses Olhos azuis e negros
Desde criança
Só querem usar lentes
Castanhas
E parecerem com seu avô
O Olho castanho

Saturday, December 09, 2006

A fotografia de Clarice Lispector


Os olhos de Clarice
O jeito de Clarice
O drama de Clarice
As palavras ocultas de Clarice
Numa fotografia
Dependurada
Numa Exposição
Na embaixada brasileira
Em Berlin
Passei diante da fotografia
E fiz click com a minha
Maquininha digital
Tentando desvendar
Do nada
A alma de Clarice
Uma mulher veio me perguntar
Porque você fotografa uma fotografia ?
Eu disse: não, eu fotografo
O rosto de Clarice
Ali está o enigma dessa foto
E eu queria falar com esse rosto
Clarice me entenderia

Saturday, December 02, 2006

Dormindo


"Leon viaja no país do sem-fim"


Viajo por um país sem fim
E de mim cacos de vida pelo chão
E o coração pelas tribos
Minhas mãos acenam em cada porto
Eu vou só mas vou com todas
Nenhuma lembrança mais triste
Ou feridas na pele
E a pele negra que brilha ao sol
Sou eu em toda a firmeza
E meu amor num país antigo
Ainda me pede uma canção
Maior que esse mundo todo
Que desemboca no mar
E se dissolve no vento
Que varre a casa que vou deixando
Pra trás

Entre Rinocerontes



Insisto em andar
Entre rinocerontes
E quando perguntam
Meu nome
Digo que sou
Uma fruta gogóia
Faca de prata
Santo rebelde
Anjo internacional

Olho pela janela
Do trem S-bahn que atravessa Berlin
E vejo essa paisagem
Estranha
Que já me acostumei
A ver todo dia
E acho que meu país
É mais bonito

A moca turca é lindíssima
Em seu véu e em suas roupas carregadas
Que prendem seu corpo
Com correntes religiosas
E ela me olha de banda
Quando passo por ela
E vejo um brilho rápido sensual
Em seus olhos negros de Turquia
E penso em uma tara com ela

Continuo entre os rinocerontes
E desembarco em Alexander Platz
Onde antigamente era a favela
Dos pobres judeus
E não me sinto num filme
De Fassbinder
ou num teatro de Yonesco